Você já deve ter ouvido falar em portfólio. E deve saber que ele costuma ser o conjunto de um trabalho (ou os trabalhos) de um artista, seja ele designer, um desenhista, cartunista, um fotógrafo. Nele também podemos encontrar fotos de autores ou modelos para divulgação entre clientes prospectivos, editores, enfim, é algo que contém material publicitário ou de arquitetura, que se leva a um cliente para sua apreciação e, de preferência, aprovação do conteúdo para contratação do trabalho. Mas… portfólio na Educação?
Bem, ele é mais usado na Educação do que se imagina. Existem cursos do Ensino Superior que utilizam o portfólio com seus alunos, porque ele será uma ferramenta de uso contínuo para eles apresentarem seus projetos. Um exemplo disso é o curso de Arquitetura. E, na Educação Infantil então, ele é bem usado pelas professoras que podem avaliar e mostrar às crianças seus desenvolvimentos.
O que muitos não sabem é que o portfólio pode ser uma boa ferramenta de avaliação e muito potente para o aluno, que levará conceitos que ele aprenderá durante a produção de seu portfólio ao longo de toda a sua vida.
Já que falamos “avaliação”, sabemos que existem várias formas de se fazer isso. Inclusive, estamos acostumados a avaliar e ser avaliados e nem me refiro apenas à vida escolar. Avaliamos filmes nos canais de streaming, ouvimos uma música no aplicativo, clicamos no ícone de coração e, com isso, já a estamos avaliando. A famosa frase “A primeira impressão é a que fica” já nos traz a ideia de avaliação, não é mesmo? E, por fim, mas sem findar porque a lista é bem grande, há quem avalie uma pessoa pelas suas roupas, pelo seu modo de falar, pelo carro que dirige, pelo bairro onde mora, pelo sobrenome que carrega, sendo essas duas últimas algo vital para que a pessoa dê sua rápida avaliação elencando a pessoa (ou não) ao rol de “amigos”.
Fato é que o portfólio é, também, uma das formas de avaliação – tanto na escola como no âmbito universitário.
Quais são os principais tipos de avaliação da aprendizagem?
Diversos instrumentos nos servem, hoje, para avaliarmos se o ensino está sendo compreendido. Medir a qualidade do aprendizado é essencial na Educação, e não me refiro apenas à escola, ok? Vamos ter isso em mente aqui.
É essencial encontrarmos os avanços, sabermos se há retrocessos, encontrarmos as dificuldades – especialmente porque desde 2020, quando começou a pandemia do covid-19, sabemos que toda a Educação ficou prejudicada. Ações diversas de avaliação da aprendizagem devem ser feitas como bússolas para seguirmos em frente, o que não é possível se não tivermos esse olhar atento.
Anotações sobre o desempenho de cada estudante, testes, trabalhos, provas, atividades são apenas algumas opções que temos. Conforme as necessidades e os objetivos de cada turma, todas essas opções auxiliam na missão de avaliar, mas não bastam.
Vamos elencar os tipos de avaliação mais conhecidos e comentados no meio docente:
Avaliação diagnóstica
Essa é uma avaliação que pode ser feita no início do ano letivo, a cada semestre, trimestre, bimestre, a cada conteúdo novo que tenha certo pré-requisito para que você siga em frente. Enfim, isso dependerá da professora / do professor, que aguçará seu olhar para cada turma que estiver sob sua responsabilidade naquela disciplina para a qual ela / ele está preparada / preparado.
O método da avaliação diagnóstica auxilia a professora / o professor na detecção e verificação dos conteúdos que estão atingindo os objetivos de aprendizagem. Trata-se de um excelente suporte para o planejamento do processo de ensino. A partir desse diagnóstico, organizam-se ações que atenderão às necessidades dos alunos. De entrevistas e exercícios ao uso dos QR Codes do aplicativo Plickers, por exemplo, e aplicação de avaliações podem ser os caminhos para utilizar esse tipo de avaliação, a diagnóstica.
Avaliação somativa
Esse tipo de avaliação tem as notas e os conceitos atribuídos aos estudantes, que farão com que sigam para outra fase, série, período. Em geral, é aplicada em cada bimestre ou trimestre e é feita através de provas, testes e trabalhos que somarão às notas destes. Por meio destes resultados, tem-se noção se os conteúdos foram absorvidos pelo corpo discente.
Ela abrange todo o conteúdo visto ao longo de determinado período escolar e é um indicador prévio do que foi alcançado. Para que essa avaliação seja feita de forma integrada, é preciso que a professora / o professor tenha clareza das etapas do processo de ensino.
Avaliação formativa
É um tipo de avaliação prática, que estimula a visão panorâmica do processo de ensino e aprendizagem. Mesmo que o aluno esteja no centro deste processo, a avaliação formativa também reflete a prática pedagógica da professora / do professor.
Os processos cognitivos, metacognitivos e afetivos são levados em consideração nessa prática avaliativa. Ela não tem uma data específica para acontecer, como nos calendários de provas, a avaliação formativa acontece ao longo dos dias letivos.
O uso do portfólio na sala de aula
Voltando ao portfólio, não se trata de uma coleção de trabalhos, nem uma pasta onde se arquivam textos, como é comumente conhecido. Trata-se de uma seleção, por parte dos estudantes, dos seus trabalhos produzidos em uma dada disciplina. Tal seleção é feita com autoavaliação crítica e cuidadosa, envolvendo o julgamento da qualidade da produção dos trabalhos e das estratégias de aprendizagem utilizadas. E isso feito pelo próprio discente.
É uma compreensão individual do que constitui qualidade em determinado contexto, além dos processos de aprendizagem envolvidos. A facilidade dessa compreensão individual faz-se presente através da interação entre as alunas / os alunos e a professora / o professor a partir da reflexão daqueles em vários momentos:
a) nos trabalhos individuais ou em grupo;
b) durante a apresentação dos portfólios pelos outros colegas;
c) por meio do confronto da produção com os objetivos e a descrição ou exposição da avaliação.
Explicam-nos Barton e Collins (1997) que os “portfólios permitem ao professor entender o trabalho do aluno de forma contextualizada”. O ponto de chegada é a conquista da autonomia da aluna / do aluno, que acontecerá através das oportunidades que lhes serão oferecidas para que se expressem a respeito de suas aprendizagens.
O princípio da construção e da reflexão
É importante entender que a construção do portfólio é feita exclusivamente pela aluna / pelo aluno e não por seus pais, colegas, professores (tanto da escola como particulares). Isso porque o portfólio é um procedimento avaliativo de construção feita pela aluna / pelo aluno.
É por meio da reflexão que se dá a sua construção, o que é um princípio norteador dessa avaliação. Refletindo, a aluna / o aluno decide o que incluirá, como incluirá e, ao mesmo tempo, analisará suas produções, com a chance de refazê-las, sempre que desejar e se for necessário.
Ao selecionar o que vai para o portfólio, é importante que, da primeira à última versão do trabalho que a aluna / o aluno resolveu refazer, estejam presentes no portfólio. Isso mesmo! Tudo o que a aluna / o aluno faz merece ser valorizado. O conceito aqui é o do progresso, não o do fracasso. Por isso é muito importante que se faça uso da reflexão: porque ela é parte desse processo! Incentive a turma a usá-la sempre e sem medo.
O princípio da criatividade
Tanto a construção do portfólio como a reflexão para sua produção favorecem o desenvolvimento da criatividade. Você sabia que a Criatividade é apontada como uma das principais características para a sobrevivência no nosso tempo? Pois é! No que se refere ao Futuro do Trabalho e as competências mais demandadas nos próximos anos, lá está ela, a Criatividade. Segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial, as habilidades que estarão em alta no mercado de trabalho até 2025 são as que seguem abaixo:
Fonte: Infomoney
Veja que interessante: algumas dessas habilidades têm relação total com essa proposta de trabalho, o portfólio na sala de aula. Você saberia apontá-las?
Observe que criatividade está em quinto lugar. É um dom? Não. É possível desenvolver a criatividade? Sim, porque todos nós somos criativos. Basta nos desbloquearmos e, para isso, é essencial manter-se curiosa / curioso. Afinal, não são as respostas que movem o mundo e, sim, as perguntas. (Sanches, 2022). O que se espera é que sejam apresentadas as evidências de aprendizagem de maneiras variadas, por outros meios além da linguagem escrita.
O estudante poderá escolher ou receber a sugestão de assistir a filmes relacionados aos temas em estudo, fazer entrevistas a especialistas, pesquisar na biblioteca da escola ou da cidade, tirar fotos, gravar áudios ou vídeos, mencionar games, etc.
Da autoavaliação
Somando-se aos princípios da construção, da reflexão e da criatividade, abrimos caminho agora à autoavaliação, momento em que a aluna / aluno estará permanentemente avaliando o seu progresso. O objetivo é avançar sempre. Com a autoavaliação constante, a aluna / aluno será capaz de reconhecer suas potencialidades e fragilidades.
É essencial que a professora / o professor esteja disponível para ajudar a observar o crescimento intelectual do estudante e a registrar suas análises. Mas lembre-se: trata-se de uma ajuda vez ou outra, porque – como já foi dito aqui – a construção do portfólio é feita exclusivamente pelo discente.
Sabe-se que na autoavaliação, o aluno analisa continuamente as atividades desenvolvidas e em desenvolvimento, registrando suas percepções e sentimentos. Essa análise leva em conta o que já foi aprendido, o que ainda não foi aprendido, os aspectos facilitadores e os dificultadores do trabalho, tomando como referência os objetivos da aprendizagem e os critérios da avaliação.
O portfólio é um processo pelo qual o aluno / aluna selecionará suas melhores produções e, juntamente com a autoavaliação, desenvolverá a habilidade crítica. Continuar com a aluna / aluno em todo o processo é muito importante, professora / professor. Não deixe, em nenhum momento, de exercer a coordenação do trabalho pedagógico que lhes foi proposto.
O que muda para os estudantes é o seu papel: de simples cumpridores de tarefas, passam a corresponsáveis. O papel do docente não é diminuído, é reforçado e valorizado assim como o dos discentes.
Estrutura do portfólio
Normalmente tem como estrutura:
– Capa contendo nome da escola (podem colocar a logo) e o título “Portfólio” (ou Webfólio, se for feito eletronicamente).
– Contracapa contendo o nome da instituição de ensino por extenso, nome completo do aluno/auna, ano escolar e turma (por exemplo, 1.º ano A), ano letivo, disciplina para a qual o portfólio está sendo confeccionado, nome do professor / professora.
Ao longo do portfólio: aulas, trabalhos, provas, testes, exercícios, tudo o que demonstre o perfil acadêmico da aluna / aluno, com atenção especial aos princípios anteriormente explicados: construção, reflexão, criatividade, autoavaliação.
Como é feita a entrega?
A professora / professor estipula uma data e quantas atividades deverão estar arroladas no portfólio. Cabe ao aluno / à aluna a escolha do que colocar ali, dentre tantas atividades feitas no 1.º bimestre, por exemplo. Lembre-se: construção, reflexão…
Por fim, mas não menos importante…
Se a instituição de ensino adotar o portfólio como avaliação é muito importante que estejam todos muito bem alinhados com a proposta: de professores e professoras à direção e, até, os pais.
Falando neles, caso seja possível, sempre deixe as portas da escola abertas para que visitem a aula daquela professora / professor que faz uso do portfólio para que acompanhem e observem as atividades feitas em sala e consigam compreender como tudo acontece. Uma reunião com os pais, escola e o aluno/aluna expondo e explicando seu processo de criação também ajuda, e muito.
Há outro porém: direção, coordenação e professores devem alinhar essas produções para que o professor / professora não fique sobrecarregado (a) de portfólios a avaliar. Caso contrário, o processo pode cair por terra e o mais importante a ser observado, acaba não fluindo, a avaliação da aprendizagem; cerne deste trabalho.
É importante, também, que não somente os professores, mas também os alunos tenham acesso ao que será avaliado no portfólio; assim é mais honesto para a construção que eles todos farão. Esse acesso será um norte para a turma.
Esperamos que essa leve pincelada sobre o uso do portfólio na Educação tenha auxiliado você no entendimento dessa potente ferramenta. Mas é importante estudar e saber mais sobre ela. Bons estudos! Bom trabalho!