Quando alguns professores encerram suas carreiras na Educação Básica, tanto pela aposentadoria como por transição de carreira, ou ainda quando pedem licenças que, por lei, têm direito, muitos de seus familiares comemoram, aliviados por não vê-los trabalhando horas e horas a fio.
Há alguns que dizem ouvir: “Graças a Deus, porque você chega em casa, dá notas nas provas, faz planejamentos, correções diversas. Algumas vezes precisamos ajudar você”
Outros relatam: “Eu nem percebi o impacto que o trabalho estava tendo em minha família. Consciente ou inconscientemente permiti que meu trabalho administrasse e quase ultrapassasse áreas da minha vida.”
Esse é o tipo de percepção a que os professores também chegaram durante a pandemia, quando foram levados ao limite, fazendo malabarismos com a aprendizagem remota, suas famílias, preocupações de saúde, perda de amigos e familiares queridos e todos os outros fatores de estresse provocados pela propagação da COVID-19. Embora não tenhamos notícias de um súbito êxodo em massa de professores, o número continua parecendo claro: professores relataram (e continuam a relatar) sofrer de depressão três vezes mais do que outros adultos. Professores estão com a saúde mental em baixa.
Isso não acontece somente no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve uma significativa rotatividade na força de trabalho. Uma recente análise da Chalkbeat descobriu que entre os anos de 2021 e 2022, oito estados americanos – Havaí, Louisiana, Maine, Maryland, Mississippi, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Washington – enfrentaram as maiores taxas de rotatividade de professores nos últimos cinco anos. No Havaí, um aumento nas aposentadorias (2020-21).
A empresa de consultoria McKinsey & Company relata que a demissão de professores atingiu o maior nível em 10 anos em 2021, aumentando novamente em 2022. Segundo a empresa, a demissão foi responsável por 61% das saídas do emprego entre professores em 2021, de acordo com os dados, e saltou para 64% em 2022.
A perda de qualquer professor tem efeitos em cascata em toda a escola, desde a erosão do sentido de comunidade até um potencial impacto no progresso acadêmico dos alunos. Mas o que acontece, mais especificamente, quando professores mais experientes se esgotam e decidem que é hora de dizer adeus, saindo pela porta com toda sua experiência suada? E o que as escolas podem mudar para que eles permaneçam?
Efeitos de ondulação
A luta pela saúde mental não é novidade para os professores, mas a pandemia tornou-a pública de uma nova forma. Alguns professores receberam elogios nos primeiros dias da pandemia, por suas desenvolturas, mas eles não se traduziram em planos significativos para ajudá-los a gerir o estresse e a pressão do trabalho. Poucas são as instituições de ensino que se dedicam a desempenhar funções de apoio aos professores sobre sua saúde mental.
Todo mundo fala sobre professores, mas ninguém fala com os professores. O que vamos fazer para nos proteger e nos curar? Numa profissão e, francamente, num mundo que nunca valorizou os professores da forma que deveriam.
Para alguns professores experientes, a resposta pode ser simples. Professores que já viram de tudo podem trazer uma segurança constante para uma equipe. Sem eles, as escolas podem parecer menos estáveis. O que acontece quando você não tem pessoas com esses anos de experiência, alguém que possa ajudar: “Eu não entendo muito bem o que fazer, você pode me ajudar?”. Percebemos esse definhamento do ambiente de maneiras que não se viu antes. Essa sensação constante de rotatividade porque não há mais o apoio por parte das pessoas que estavam lá.
Já outros professores experientes não vão embora, persistindo apesar do esgotamento. Isso também pode ter efeito negativo no moral dos colegas. Os professores veteranos estão fazendo malabarismos com todo tipo de coisa, porque também querem um bom trabalho. É essa triangulação de tentar se manter, administrar salas de aula que não estão devidamente equilibradas em termos das necessidades dos alunos e administrar crianças que não estão preparadas emocionalmente para seguir as orientações.
Embora a pandemia tenha exacerbado os pontos fracos externos, há também outro culpado pelo estresse que os professores mais experientes estão vivenciando. Há uma certa atitude de auto sacrifício que eles têm há muito tempo, que vem das expectativas dos seus pares, administradores, desde os seus dias de formação na faculdade. É a ideia de que, desde o início das aulas, de janeiro a dezembro, suas vidas giram totalmente em torno do trabalho.
Tudo isso contribui para a sensação de que uma carreira duradoura na educação é uma perspectiva tênue – ou que exige que os professores se esforcem para dar, e dar, e dar até que não reste mais nada.
Quem cuida de professores experientes?
Um estudo de Nova Orleans sobre o impacto da COVID-19 e dos seus fatores de estresse nos professores descobriu que, quando questionados sobre qual tinha sido o apoio mais útil durante o ensino no período da pandemia, 42% dos respondentes disseram que o apoio veio “dos colegas de trabalho”.
Um dos professores disse aos investigadores deste estudo que “trabalhar com um grupo de colegas de trabalho que realmente se importa” era fundamental para se sentir apoiado. Ainda que os professores mais experientes tendam a arcar com o ônus emocional adicional à medida que seus colegas se apoiam neles, especialmente novos professores que ainda estão se firmando na profissão, a verdade é que as escolas estão perdendo a oportunidade de investir em professores mais experientes como líderes que podem ajudar a melhorar o bem-estar de outros colegas.
Ensinar não poderia ficar mais difícil com o passar dos anos. Se você tem 10, 20 anos sob seu controle, deveria ser menos opressor. É preciso cuidar dos professores. Todos. Não há nada melhor do que um professor mais experiente estando feliz e sendo capaz de ensinar gerações de famílias. Quem garante que este coletivo esteja bem?
Os professores têm de estar conscientes de sua capacidade, usar sua voz. Há professores experientes que começam a pensar mais em como querem que sejam suas vidas fora do trabalho.
Porta giratória
No entanto, os pequenos (e pouquíssimos) círculos de apoio e mudanças de atitudes podem não ser suficientes para garantir que os professores de hoje persistam para servir como os mais experientes de amanhã.
Temos testemunhado professores experientes buscando a transição de carreira, da mesma à outra área, a depender de seus objetivos. Eles dizem: “Preciso abandonar essa profissão, porque acabou de ser demais, porque chegou ao ponto em que está me quebrando mental e/ou fisicamente”. Após passarem pela porta giratória, alguns dos professores que fizeram a transição profissional dizem aos mais novos para que não fiquem na profissão por 20 anos, eu mudei, faça essa mudança agora”. Se os novatos fizerem isso, manteremos essa porta giratória e passarão a ser considerados professores veteranos aqueles que estão completando 5 ou 7 anos de profissão; o que não é benéfico para ninguém no ambiente escolar, principalmente para os alunos.
Nas redes sociais vemos piadas sobre professores estressados, mas por baixo disso há depressão, ansiedade, medo avassalador de perder tudo.
E quanto ao suporte? Haverá? O que você tem feito em prol dos profissionais da educação? Finalizamos com esses e outros tantos questionamentos…